FernandoLeiteFernandes-Poesias.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013


A saudade é um país de geografia abstrata.
Tem rios que não terminam nunca,
montanhas solitárias,
planícies à perder de vista
e um mar que se ouve.
As tardes são vastíssimas
e chove nos domingos de frio
quando o bom é dormir agasalhado.
Lá fora piam pássaros molhados:
a rolinha é a mais cortesã de todas as aves,
o periquito é cômico,
o gavião é altivo e só.
Eu não canto e muito menos sei voar
mas conheço o poder da palavra
e me calo enquanto rio.
Invento mentiras, mudo o nome dos sentimentos
e engano aos que odeio.
Se quiser faço gaiolas
e me transformo no senhor do mundo.
O ruim é que neste país nunca amanhece.
Só me lembro das tardes longínquas,
aquela cor indefinida entre o azul e o lilás
e uma dor visível, violeta.
Lá moram os mortos que andam,
que torram o café que bebem
e riem às bandeiras, sentados em roda, no alpendre:
Dico, Roque, Mariquinha e Diomar.
Revejo velhas roupas,
minha japona quadriculada do Grupo Escolar
Barão de Macaúbas, a bicicleta do meu pai
e até sinto o cheiro de pão com manteiga,
que eu levava de merenda na minha pasta de borracha.

É sempre assim quando ouço
o canto das lavadeiras do rio Paraíba.
Foram elas que fabricaram esse País,
essa tristeza.




(FernandoLeiteFernandes)
 

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