Deixem que Maria Callas cante uma ária triste,
que tenha violinos, de preferência,
enquanto assisto na TV, a marcha dos albaneses,
deixando sua aldeia.
Sladan Tiakovic
é um camponês solitário,
entre os que fogem para a Macedônia.
Não olha para trás,
enquanto vence as últimas colinas.
Deixou insepultos dois filhos,
mas carrega-os, ensanguentados,
no colo da memória.
Aumentem o volume,
que Maria Callas inunde, completamente
essa tarde absurdamente azul e bela,
com seu canto triste,
espada de gume afiado.
Quero um talho fundo em meu coração
insensato,
quero o crepúsculo,
como um manto roxo
sobre nossas estátuas de barro,
sobre nossa paixão disfarçada.
(FernandoLeiteFernandes)
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