FernandoLeiteFernandes-Poesias.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

"PESSOAS"



Em plena baia da Guanabara,
Na Cantareira, vejo as gaivotas
Em seu voo acrobático.

Em minhas mãos a luz do dia
Tem a cor das violetas.
Não consigo evitar que os poemas de Pessoa
Flutuem.
Desprendem-se do livro e vagam.
(Os grandes poetas são mesmo passarinheiros.
São iguais as aves de Gullar, Drummond ,
De João Cabral)
Enquanto vigio a vida
- veloz Cantareira –
Imagino o que estará fazendo Maria Tabajara
Num terreiro de chão batido, em São Fidélis.
Atravessa o tempo o cheiro da broa de milho,
do café torrado.
Do barro molhado pela chuva de janeiro.
Ouço o canto de Ataliba
E sua enxada fere de morte a quaresmeira.
Ataliba não distingue a flor do capim.
Masca manjericão e sonha
Com uma mulher pálida
Que lhe faça almoço quente
E esconda o rosto quando levantar a saia.
Depois é oração para as chagas de Cristo

Um avião estupra a calmaria da tarde de inverno,
Devassa a minha memória, desfaz a chácara de minha infância,
As laranjeiras em flor, o pé de lima da Pérsia
Repleto de metódicas galinhas no comecinho da noite,
Infalivelmente.
Então me levanto mecanicamente
E vou junto da multidão.
O futuro me empurra
Para o cais.


(FernandoLeiteFernandes - maio de 1993 do século 20)

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